COMO CRIAR A EMBALAGEM AMBIENTALMENTE PERFEITA?


Um jogo infinito...





Em abril de 2016, a ABRE e a CETESB lançaram em conjunto a cartilha "Embalagem & Sustentabilidade - Desafios e Orientações no Contexto da Economia Circular".

Denominada de "jogo do infinito", uma metáfora para o conceito de economia circular, a ilustração acima é a peça-chave do trabalho. Compila e organiza praticamente todas as ações que podem ser tomadas para melhorar uma embalagem em termos ambientais.


A grande figura do número oito deitado está dividida em 2 partes: no laço da direita ficam os elementos pertinentes a projetos específicos e no laço da esquerda os elementos sistêmicos.

No total, figuram nada menos que 48 ações agrupadas em 9 grandes categorias.

Fita de Moebius com antas vermelhas, Escher, 1963


Como as antas na fita de Moebius de Escher, vamos percorrer os dois lados completos e voltar no mesmo lugar, apenas para recomeçar... Um trabalho de formiguinha, assim é a melhoria contínua. Então, vamos lá!



1. ELEMENTOS DE PROJETOS ESPECÍFICOS



1.1. Eliminar perdas e desperdícios de produto por meio da embalagem




1.1.1. Oferecer proteção física durante as etapas de distribuição e armazenagem.

 > Um exemplo típico é a embalagem de ovo.



1.1.2. Aumentar a vida útil do produto, por meio de embalagens (ex: barreiras à luz ou à umidade).

 > Para entender melhor este ponto crucial, recomendo a publicação "o valor das embalagens flexíveis no aumento da vida útil e na redução do desperdício de alimentos".


1.1.3. Oferecer porcionamento e possibilidade de refechamento adequado aos diferentes momentos de consumo.


 > Um boa aplicação desta funcionalidade é a embalagem dos famosos frios fatiados Soltíssimo da Sadia, com um sistema de refechamento cuja qualidade é garantida para o número de fatias no pacote. 


1.1.4. Comunicar claramente ao consumidor orientações de armazenamento, uso, estocagem após abertura e descarte.

 > A própria embalagem é o primeiro e o último meio que uma marca tem para comunicar sobre sustentabilidade. E mesmo se as embalagens brasileiras costumam falhar com isso, pode mudar radicalmente com a iminente revolução tecnológica das embalagens inteligentes.


1.1.5. Desenhar a embalagem para permitir o uso de todo o produto, sem resíduos internos.

 > Um excelente exemplo deste ponto 1.1.5. é a linha Natura Sou!



1.2. Minimizar os impactos da própria embalagem (considerando o sistema primário-secundário-terciário)


1.2.1. Analisar diferentes opções de material de embalagem e seus impactos ambientais, tanto na produção quanto na destinação final.

 > Vale ressaltar que, no setor de embalagem, nenhum material é inerentemente melhor que outro. Cada um apresenta características diferentes, valiosas para diferentes objetivos. Aliás, combinar vários materiais é frequentemente a melhor opção para proteger adequadamente um determinado produto. Os Egípcios antigos já sabiam disso quando desenvolveram para as suas múmias o que pode ser considerado como a primeira embalagem multicamadacerca de 4 mil anos atrás...


1.2.2. Desenvolver processos produtivos enxutos, com a aplicação de conceitos de produção mais limpa (P+L).

 > Para isso, recomendo consultar a série de guias de produção mais limpa da Cetesb, com destaque para a segunda edição do guia técnico-ambiental da indústria gráficaFoi publicado em 2009 mas, como coordenador da comissão de elaboração e principal autor, garanto que o seu conteúdo continua válido ;).


1.2.3. Optar por decoração e rotulagem que não prejudique a reciclagem.

 > A priori simples, esta recomendação pode ser mais difícil a seguir que parece, não somente por motivos de marketing, mas também por meros motivos técnicos. Para entender melhor esta complexidade, vale examinar de mais perto um exemplo aparentemente trivial, aquele dos potes de iogurte: afinal, são ou não são recicláveis?


1.2.4. Buscar formatos que otimizem a distribuição.
  

 > Que melhor exemplo que o ConservaCube™, a única embalagem flexível totalmente cúbica?


1.2.5. Utilizar relação otimizada entre quantidade de embalagem e produto.

 > Este ponto merece uma charada tecnológica: o que diminui de 28 para menos de 8 gramas em 30 anos? Quer uma dica? A indústria de embalagem faz a sua parte... 

E, falando de charada, creio adivinhar o que está pensando: quanto maior o pacote, menor a quantidade relativa de embalagem. Portanto, pacotes maiores são melhores. Óbvio, não? Na verdade, não é bem simples assim porque não dá para se esquecer do padrão de consumo... Por exemplo, já testemunhou desperdício de ketchup ou maionese em uma lanchonete? 


1.2.6. Considerar a viabilidade de sistemas retornáveis.


1.2.7. Considerar a viabilidade de sistemas reutilizáveis como, por exemplo, o uso de refil.

 > Aliás, para um melhor entendimentos dos benefícios do refil, recomendo um pequeno exercício que vai ajudar a empresa XPTO...


1.2.8. Considerar a desmontagem ou separação dos componentes.


1.2.9. Considerar as limitações de coleta seletiva e reciclagem da embalagem na região onde o consumo ocorrerá.

 > A problemática da reciclabilidade dos potes de iogurte, já mencionada acima em outro contexto, constitui uma ilustração viva destas limitações.


1.3. Otimizar a logística


1.3.1. Desenho favorecendo o aproveitamento máximo da carga e estocagem.

 > Conhece o YES Pack?


1.3.2. Redução do peso ou volume do sistema produto-embalagem como, por exemplo, produtos concentrados. 

 > Vale um pequeno exercício sobre um produto concentrado da empresa XPTO e a sua embalagem.


1.3.3. Redução do consumo de energia do sistema produto-embalagem, como por exemplo eliminação da necessidade de refrigeração.

 > Conhece os produtos da Vapza? Não contem conservantes, mas também dispensam refrigeração. Como? Bom, preciso dizer que o segredo está na embalagem?


1.3.4. Para elementos retornáveis (pallets, caixas, cascos) considerar o desenho para otimização de peso e cubagem além de processos eficientes para higienização.

 > Conhece a solução PlastiCorr?
  
  

1.4. Otimizar o uso, combinando inovações tecnológicas com orientação adequada (rotulagem)


1.4.1. Orientar quanto à dosagem correta principalmente quando se tratar de produtos concentrados.

 > Conhece o Purex® PowerShot?


1.4.2. Facilitar o consumo ou a aplicação, por meio, por exemplo, de bicos dosadores.

 > Na civilização ocidental, devemos tudo aos Gregos. Mas evoluímos. E trocamos as ânforas por embalagens melhores. Por que então insistir em vender e comprar azeite sem bico dosador?


1.4.3. Orientar quanto ao modo de preparo e seus impactos ambientais associados.

 > A embalagem deve falar bem do seu companheiro. Não existiria sem ele, e vice-versa.


1.4.4. Eliminar necessidade de refrigeração, tanto na casa do consumidor como no varejo.

 > Em 1810, Nicolas Appert escreveu:
« Todos os meios até agora concebidos para conservar os alimentos ou substâncias medicinais se reduzem a dois métodos: um onde se usa a dessecação, outro onde se adiciona uma substância para evitar a fermentação e putrefação»
Não conhecia os sistemas de refrigeração mas, com a sua invenção, nem precisava...


1.4.5. Facilitar a conservação após aberto aumentando o tempo de vida útil do produto.

 > Diga, os minions ainda acham que a casca da banana é a melhor embalagem?


1.4.6. Considerar projetos que eliminem utensílios relacionados ao preparo ou uso, por exemplo, sopas consumidas direto da própria embalagem.

 > Quando digamos que a única constante é a mudança, vale também para sopas... Os pratos prontos Prego Ready Meals da Campbell´s podem ser aquecidos em apenas 1 minuto e consumidos dentro da própria embalagem.



1.5. Adequar a embalagem à infra-estrutura pós-consumo


1.5.1. A embalagem deve estar adequada às cadeias pós-consumo existentes, tanto em termos de coleta seletiva como de tecnologias de reciclagem e revalorização.

1.5.2. Não deve prejudicar ou comprometer cadeias de revalorização amplamente estabelecidas.

1.5.3. Considerar o desenho para desmontagem ou projeto para reciclagem.

1.5.4. Especial atenção deve ser dada à maximização do valor pós-consumo, muitas vezes a cor da embalagem pode significar redução do valor de revenda das aparas.

1.5.5. Simbologia de reciclagem adequada aos diferentes componentes da embalagem.



2. ELEMENTOS SISTÊMICOS



2.1. Orientar e engajar o consumidor para destinação adequada dos seus resíduos


2.1.1. Caso for utilizar rotulagem ambiental, evitar o greenwashing.

2.1.2. Garantir aplicação da simbologia de identificação de materiais e descarte seletivo.

2.1.3. Explorar a possibilidade de incluir campanhas de educação ambiental e consumo consciente.


2.2. Melhorar a infra-estrutura para a gestão de resíduos


2.2.1. Contribuir para a ampliação e/ou harmonização dos programas de coleta seletiva;

2.2.2. Desenvolver e aperfeiçoar os sistemas de reciclagem.

2.2.3. Implementar e aperfeiçoar os sistemas de logística reversa.

2.2.4. Integrar e aumentar a capacidade de operação de cooperativas e associações ligadas à reciclagem.



2.3. Criar incentivos ao desenvolvimentode embalagens ambientalmente mais adequadas


2.3.1. Políticas de compras mais sustentáveis.

2.3.2. Políticas de incentivo ao uso de matéria-prima reciclada.

2.3.3. Linhas de crédito para pesquisa e implementação de novas tecnologias e modelos de negócio.

2.3.4. Políticas tributária e fiscal para a viabilização de novos modelos de negócio.

2.3.5. Incentivo à criação de novos negócios na cadeia de revalorização.

2.3.6. Aperfeiçoamento do sistema de cobrança pela gestão municipal de resíduos.


2.4. Incentivar a pesquisa e desenvolvimento


2.4.1. Tecnologias para redução de peso da embalagem mantendo seu desempenho.

2.4.2. Novos materiais e estruturas com melhor reciclabilidade.

2.4.3. Novas tecnologias e processos de separação e triagem.

2.4.4. Novas tecnologias de reciclagem.

2.4.5. Novas tecnologias de revalorização.

2.4.6. Novas tecnologias de higienização.




E agora, além de ficar antenado (acompanhando as publicações da página Facebook Embalagem & Sustentabilidade), pode voltar lá em cima e começar o jogo de novo. Criar a embalagem ambientalmente perfeita é um trabalho sem fim...

Fita de Moebius com antas vermelhas, Escher, 1963

  

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Teddy. Abr/16.

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