« Se não tivesse um mundo melhor entre todos os possíveis, Deus não o teria criado. »
Leibniz, 1710.
Gottfried Leibniz |
A metáfora inglesa bottom line não tem equivalente literal em Português. Remete à esfera da contabilidade empresarial. Representa a linha final de um balanço contábil, o resultado final de uma longa lista de adições e subtrações, a última operação. É a linha de baixo, o que importa, o dinheiro. Mas o que isso tem a ver com Leibniz e a sustentabilidade? [...]
A expressão triple bottom line é uma extensão desta metáfora da linha contábil, uma metáfora mais ampla que, além do resultado econômico, agrega também os resultados ambiental e social. É sinônima dos 3P (profit, planet, people) e dos 3 Es (economy, environment, equity), equivalentes anglo-saxões do famoso tripé da sustentabilidade. Sua origem remonta aos anos 1990 e é geralmente atribuída a John Elkington, co-fundador da consultora SustainAbility.
O conceito de triple bottom line é muito simples e poderoso nesta extensão da visão contábil às esferas social e ambiental. Não há como produzir algo sem trabalho ou energia. Assim, qualquer produto ou serviço gera impactos sócio-ambientais negativos. Mas este produto ou serviço deve também servir uma função e, assim, trazer impactos positivos. Idealmente, um produto ou serviço se justifica apenas se os seus impactos positivos superam os negativos. Não se faz omelete sem quebrar ovos. Tem que fazer a soma dos mais e dos menos, e verificar o resultado.
Esta metáfora conceitual lembra a teoria desenvolvida por Gottfried Wilhelm Leibniz para explicar o aparente paradoxo entre um deus onipotente infinitamente bondoso e a existência do mal. É a teodiceia, mais uma contribuição intelectual de um dos melhores cérebros de todos os tempos. Foi um grande diplomata, historiador, teólogo e filósofo. Mas Leibniz deveria provavelmente ser mais reconhecido pela sua matemática. Afinal, inventou o cálculo, paralelamente aos trabalhos do seu contemporâneo inglês Newton, outro gênio.
Não pode haver felicidade sem tristeza. Não pode haver bom sem ruim. Não pode haver bem sem mal. Dito desta forma, o mal é necessário. Mas deus mantem o equilíbrio perfeito, ou seja, administra sempre a quantidade mínima de mal necessária à maximização do bem. Assim, segundo Leibniz, apesar das injustiças aparentes, vivemos no melhor mundo possível.
Note que Gottfried, contemporâneo do Rei Sol Luís XIV (dá para perceber pela foto acima, não?), não era versado em sustentabilidade, nem, aliás, na teoria do multiverso. Para ele, podia existir apenas um mundo, aquele em que vivemos. E tinha que ser o melhor dos mundos possíveis, porque senão deus não o teria criado. Note também que, além de um tanto maniqueísta, Gottfried era um grande otimista: pessimistas não acreditam que vivemos no melhor dos mundos, apenas temem que seja verdade.
A metáfora da « soma dos mais e menos » não passa de uma grande simplificação, mas se sustenta em muitas outras áreas. Por exemplo, qualquer remédio possui efeitos colaterais e se justifica apenas se os seus efeitos positivos forem superar os negativos. Por isso, não faz sentido tomar um medicamento sem motivo sério. Da mesma forma, não faz sentido consumir um produto ou um serviço sem motivo sério, sob risco de acabar com um balanço sócio-ambiental negativo.
Note que Gottfried, contemporâneo do Rei Sol Luís XIV (dá para perceber pela foto acima, não?), não era versado em sustentabilidade, nem, aliás, na teoria do multiverso. Para ele, podia existir apenas um mundo, aquele em que vivemos. E tinha que ser o melhor dos mundos possíveis, porque senão deus não o teria criado. Note também que, além de um tanto maniqueísta, Gottfried era um grande otimista: pessimistas não acreditam que vivemos no melhor dos mundos, apenas temem que seja verdade.
A metáfora da « soma dos mais e menos » não passa de uma grande simplificação, mas se sustenta em muitas outras áreas. Por exemplo, qualquer remédio possui efeitos colaterais e se justifica apenas se os seus efeitos positivos forem superar os negativos. Por isso, não faz sentido tomar um medicamento sem motivo sério. Da mesma forma, não faz sentido consumir um produto ou um serviço sem motivo sério, sob risco de acabar com um balanço sócio-ambiental negativo.
Muitos dizem que contabilizar ganhos e perdas é puramente econômico, que não tem lógica em termos ambientais ou sociais, que nestes outros âmbitos são os conceitos de limites e equilíbrios que devem prevalecer, não meras adições e subtrações. A ideia de triple bottom line deve evoluir radicalmente, se distanciar do seu quadro original, emergir do seu casulo e crescer de forma independente. A metáfora deve se metamorfosear.
Não é fácil... Para resolver a tripla crise sócio-econômica-ambiental que vivemos, precisaríamos mesmo do Grande Otimizador, um certo deus leibniziano da sustentabilidade. Vamos invocá-lo juntos, ok?
Não é fácil... Para resolver a tripla crise sócio-econômica-ambiental que vivemos, precisaríamos mesmo do Grande Otimizador, um certo deus leibniziano da sustentabilidade. Vamos invocá-lo juntos, ok?
Referência: DILLARD, Jesse; DUJON, Veronica; KING, Mary C. (Ed.). Understanding the social dimension of sustainability. Routledge, 2008.
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