VOCÊ LAMBE A TAMPA DOS IOGURTES? ISSO PODE ACABAR!

Como reduzir o desperdício de produto com embalagens super deslizantes.

Basta lamber para conseguir ler:
'Se pensou que isso era bom, espere até comer o restante'

Alguns anos atrás, no final de uma palestra sobre 'embalagem & sustentabilidade', uma jovem fez uma pergunta que ainda me faz sorrir.

Com muito bom humor e um toque de ironia/desafio, perguntou se lamber a tampa dos iogurtes era uma atitude sustentável (já que evita desperdício de comida) e se eu mesmo lambia...

1. Toyal Lotus^®

Respondi que não precisava mais se preocupar com isso porque Toyo Aluminium, a grande multinacional japonesa, havia inventado Toyal Lotus^®, uma tampa com alta repelência à água que já resolvia este problema, sem lambança.

TOYAL LOTUS^® - Post Facebook Nov/15
 

Completei dizendo que, por mais lúdica que podia parecer, esta inovação era longe de ser uma simples diversão anedótica.

É verdade que muitos consumidores acham nada pouco demais. A grande maioria deles (98% segundo algumas fontes) quer poder continuar a lamber a sua tampinha, um pouco, sem sujar os dedos ou a cozinha, como Sonny nas fotos abaixo.

Alguns consumidores, como China,
a cachorra da minha colega argentina Victoria,
adoram lamber o pote inteiro!

Mas a tampa antiaderente é apenas um dos primeiros exemplos de uma nova tendência tecnológica que pode trazer muitos ganhos. Na realidade, a tampa repelente prefigura um aporte notável ao grande edifício das embalagens mais sustentáveis: as embalagens com superfícies super deslizantes...

E Toyo não é a única empresa a inovar na área. A Liquiglide, inteiramente dedicada a este tema, é outro grande exemplo. E seus objetivos não são dos mais humildes. Conforme declara, quer revolucionar a forma em que os líquidos se movimentam.

2. Liquiglide

Liquiglide - Post Facebook 'Embalagem & Sustentabilidade - Jul/15

O site da Liquiglide é excelente. Não precisa repetir aqui o seu conteúdo. Mas vale destacar que os ganhos trazidos por esta tecnologia são múltiplos e que vão muito além da sustentabilidade:

• Diferenciação da concorrência;
• Novas embalagens impossíveis antes;
• Novos produtos impossíveis antes;
• Maior conveniência.
   

MIT, Harvard e Liquiglide: a garrafa de ketchup antiaderente

E todos estes benefícios não se limitam às embalagens de alimentos, nem às embalagens plásticas, nem mesmo apenas às embalagens em geral. Abrangem muitos setores. Os exemplos não faltam:
  

• Indústria alimentícia (tubulações mais simples de limpar entre cada batelada);
• Setor têxtil (roupas sempre secas);
• Construção civil (tubulações com revestimento anti-gelo);
• Petróleo e gás (dutos que não entopem);
• Construção naval (barcos ou barragens que não deixam algas se fixar);
• Aparelhos eletrônicos (telas que ficam sempre limpas);
• Medicina hospital (sistemas de transfusão que previnem entupimentos).

Embalagens alimentícias com Liquiglide

Embalagens de home care com Liquiglide

Embalagens de personal care com Liquiglide

3. Mas quais são os reais benefícios ambientais?

A quantidade de produto presa dentro das embalagens após o uso é significativa? 

Sim! Mas estas quantidades variam de acordo com a embalagem, com o produto, e até mesmo com o usuário. O ideal seria realizar pequenas pesquisas quantitativas para cada situação. Infelizmente, isso ainda é raro. Os dados publicados são geralmente muito genéricos, como neste exemplo abaixo da ReFED. No entanto, existem algumas exceções.

ReFED: repense o desperdício de alimentos, com embalagens!
Post Facebook de 15.04.2016

Uma das melhores fontes quantitativas hoje disponíveis sobre 'resíduos não intencionais' é o estudo da Incpen (Conselho Industrial Europeu para a Pesquisa sobre Embalagem e Meio Ambiente) intitulado The Bit at the Bottom, de 2016. Foi realizado com base numa proposta da Boots UK, líder varejista para produtos de saúde e beleza no Reino Unido.

Seguindo uma metodologia conversadora, a pesquisa mostrou que cerca de 7% das embalagens geram pelo menos 5% de 'resíduos inevitáveis', com algumas superando os 15%. Os produtos viscosos são particularmente propensos a este 'desperdício mandatório'. Resultados similares seriam certamente encontrados em outros países. 

Post Facebook de Maio/16

Outro estudo quantitativo, da Consumer Report, chegou a conclusões similares nos EUA em 2009: Agite, chacoalha e espreme - Quanto fica dentro desta embalagem?

Até a última gota? Não!

Segundo este estudo americano, muitas embalagens são particularmente mal desenhadas no que diz respeito a sobras residuais. Loções para a pele em frascos soprados podem reter de 17 a 25% do seu produto original. Assustador! Determinadas embalagens rígidas de detergentes líquidos podem impedir o uso de 7 a 16% do que foi comprado pelo consumidor, garrafinhas de condimentos (ketchup e mostarda) de 3 a 15%, tubos de creme dental de 1 a 13%, sabonetes líquidos de 3 a 6%, e limpa-vidros de 1 a 3%. Enfim, um verdadeiro desastre!

Até 25% de desperdício segundo a Consumer Reports!

Por sua parte, a Toyo estima que a quantidade de iogurte grudada em todas as tampas do mundo equivale ao consumo de iogurte na África.
  
E, pelo princípio do iceberg, sabemos que os impactos ambientais embutidos no ciclo de vida dos produtos são geralmente muito superiores àqueles das suas embalagens. Portanto, qualquer desperdício de produto já costuma ser bem expressivo em termos ambientais, direta e indiretamente, tanto em termos de consumo de recursos quanto de geração de resíduos.

Mesmo assim, a eliminação das perdas residuais de produto provavelmente não é o maior ganho ambiental dos novos desenvolvimentos em materiais antiaderentes para embalagens. Em uma reação de cadeia, tecnologias como Liquiglide possibilitam outras inovações. E são certamente estas  mudanças mais profundas que trarão os maiores ganhos.

Liquiglide pode ajudar a simplificar as embalagens,
sem prejudicar as suas funções
  

Alterações na dinâmica dos fluidos permitem repensar os produtos e suas embalagens. Os formatos podem ser otimizados e os produtos podem evoluir. Loções e detergentes, por exemplo, podem passar a ser oferecidos em fórmulas mais concentradas, economizando recursos em toda a cadeia logística. E acessórios como tampas e sistemas de bombeamento podem simplesmente ser eliminados.
   
Os principais ganhos ambientais das soluções super deslizantes aplicadas às embalagens podem ser resumidas assim:

1. Viabilização de sistemas produto-embalagem mais ecoeficientes;
2. Redução dos desperdícios de produto;
3. Ganhos na gestão dos resíduos pós-consumo:
• a) Redução do peso e do volume;
• b) Redução da insalubridade ou periculosidade;
• c) Aumento da reciclabilidade (pela eliminação ou redução dos custos da lavagem).

Na grande maioria dos casos, os ganhos seguirão esta ordem de importância. Mas avaliações caso a caso serão sempre necessárias.
   
Finalmente, vale ressaltar os aspectos sociais. Depois daquela pergunta constrangedora sobre os meus hábitos alimentares, eu passei a adicionar esta foto no final das minhas apresentações, destacando outra facete do desperdício:

'Muitas crianças não tem nem isso para comer - Ajude'

"Muitas crianças não tem nem isso para comer". Estampada dentro das tampas de iogurtes da marca Fazenda, esta mensagem incômoda. Serviu de campanha para a Fundação Ação Criança em 2011. E espero que mudou comportamentos. Sob esta perspectiva, embalagens mais inteligentes aparecem até como uma questão ética!

4. Até para detergentes? Mas como funciona? 

  

A física envolvida nos materiais super deslizantes merece um rápido sobrevoo.

A folha de lótus, sempre sequinha

O caráter hidrofílico ou hidrofóbico de um material está altamente correlacionado com o ângulo formado entre a sua superfície e a tangente na base da 'gota'. Chama-se ângulo de contato. Se for pequeno, o líquido se espalha e molha a superfície. Já, se for maior que 90°, uma verdadeira gota tende a se formar, e pode escorregar por gravidade.

  

A esquerda, uma superfície hidrofóbica;
a direita, uma hidrofílica.

No caso do Toyal Lotus®, o ângulo de contato é de 170°, ou seja, maior ainda que os 150° da famosa folha de lótus, a sua fonte de inspiração biomimética.

  

Mas além de criar um grande ângulo de contato, um material super hidrofóbico costuma também se comportar como um colchão de ar. É justamente o caso da folha de lótus e do Toyal Lotus®. Em toda a sua extensão, micro perfurações funcionam como bolsas de ar cuja pressão repele as gotículas que se formam. O conjunto desta bolsinhas impede bloqueios em irregularidades da superfície e empurra a água para fora. 

  

Figura extraída do artigo da Nikkei Asian Review

  

Mas alguns produtos escorregam menos que os outros. Os detergentes constituem um caso extremo particularmente complicado. Contem surfactantes, ou seja, agentes tensioativos, moléculas bipolares que diminuem a tensão superficial. Como não se juntam bem entre si, estas moléculas tendem a grudar mais à superfície na qual se encontram.

  

Revestimentos deslizantes até para detergentes

Mesmo assim, não escapam à mágica dos novos materiais de embalagem. Agora, seguem deslizando.
    

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Teddy Lalande. Nov/16.